Ninguém ainda se esqueceu da interceção de Malcolm Butler, na ponta final do Super Bowl, em Fevereiro de 2015, numa altura em que tudo indicava que o Seattle Seahawks ia conseguir o touchdown que anularia a vantagem de 28-24 e iria enviar o New England Patriots para a terceira derrota consecutiva em finais do campeonato da NLF.
Tom Brady tinha feito uma exibição sensacional para anular a desvantagem de 10 pontos no quarto período, mas Seattle marchou 79 jardas em sete jogadas que gastaram apenas um minuto e 36 segundos. A bola estava na linha de uma jarda dos Patriots e todos esperavam que fosse Marshawn Lynch, que havia acumulado 102 jardas em 24 corridas, a fazer o transporte até ao endzone dos Patriots.
Mas, por qualquer motivo, a equipa técnica de Seattle decidiu que a defesa dos Patriots estaria vulnerável para o passe e assim escolheu uma jogada em que Jermaine Kearse iria fazer a parede para impedir que Malcolm Butler conseguisse cobrir Ricardo Lockette, que assim ficaria isolado para receber o passe de Russell Wilson.
O problema para Seattle foi que Butler reconheceu imediatamente a jogada e assim que Wilson levantou o braço para lançar a bola, arrancou e conseguiu antecipar-se a Lockette, fazendo a interceção que assegurou a vitória dos Patriots.
Foram realmente cerca de dois minutos com uma montanha russa de emoções. Primeiro, o trabalho magistral de Tom Brady, finalizado com o passe para Julian Edelman, colocou os Patriots em vantagem, com apenas 2:02 por jogar e tudo apontava para a vitória da turma de Foxboro.
Mas, uma receção acrobática de Jermaine Kearse, na altura guardado por Butler, colocou a bola na linha de cinco jardas dos Patriots. Foi uma receção que fez lembrar o que fizera David Tyree na derrota frente ao New York Giants em Fevereiro de 2008.
Para milhões de fãs dos Patriots era a repetição do pesadelo.
"Os meus colegas estavam a dizer que 9 em 10 vezes, aquele passe é incompleto," disse Butler após o final da partida. "Foi devastador."
Felizmente, volvidas duas jogadas, Malcolm Butler salvou a noite, com uma intervenção sensacional.
"Eu tinha um pressentimento que ia fazer uma grande jogada e isso tornou-se realidade e sinto-me abençoado", disse Butler nas declarações prestadas a Michelle Tafoya, da NBC, no final da partida. "Neste momento, eu não consigo explicar. Eu estou apenas..."
Nada mau para um jogador que tinha sido ignorado no draft e que só assinou contrato depois de prestar provas em Maio. E mesmo naquele jogo, Kyle Arrington tinha sido o titular, mas a má exibição levou a equipa técnica dos Patriots a fazer a substituição e a apostar no rookie, Malcolm Butler.
Como o adversário de domingo é Seattle e esta é a primeira vez que estas duas equipas se tornam a defrontar desde o Super Bowl XLIX, a jogada foi tema de conversa com os jornalistas.
"Todos nós sabemos o que aconteceu. ... [Traz-me um sorriso] sempre que penso nisso, mas isso não nos vai ajudar a ganhar este jogo," disse Butler antes do treino de quarta-feira. "Isto é maior do que eu. Essa jogada não nos ajudará no domingo à noite, por isso temos que estar prontos para jogar."
MALCOLM BUTLER TEM EVOLUÍDO
Este comentário demonstra bem a maturidade e a evolução registadas por Malcolm Butler neste curto espaço de 21 meses. Na época passada gradualmente assumiu o papel de número 1 entre os cornerbacks dos Patriots e esse estatuto manteve-se este ano.
Nos últimos seis jogos, consentiu apenas 12 receções em 34 tentativas e na ]ultima jornada fez possivelmente a melhor exibição da temporada frente ao Buffalo Bills, onde só permitiu duas receções.
Para o treinador Bill Belichick a ascenção de Malcolm Butler, ignorado no draft depois de concluir a carreira universitária em West Alabama, a titular indiscutível dos Patriots não é difícil de explicar.
"Sem dúvida que o Malcolm [Butler] evoluiu bastante," disse Belichick. "Decerto a mudança de West Alabama ou do Mississipi, onde ele cresceu, para esta área, é um salto muito grande em termos de ajustamentos, estilo de vida, transição e tudo isso. Eu penso que faz parte disso, ir duma situação na faculdade até ao nível de competição a nível profissional, as exigências diárias da National Football League. Todos os jogadores têm que fazer essa transição."
Por sua vez Devin McCourty, um dos capitães da defesa, recorda-se que Butler, quando chegou aos Patriots, no Verão de 2014, "estava a aprender o que se estava a passar defensivamente, mas fazia jogadas. Para todos os elementos da defesa, isso deu logo nas vistas, quer fosse nas interceções, ou no desvio de passes, na luta homem-a-homem. Não importava contra quem era. Penso que foi isso que começou a notar-se. Ficava cara a cara na luta homem-a-homen contra o Julian [Edelman]. Ficava cara a cara com o [Danny] Amendola. A ideia que ficou foi que 'esse rapaz é bom.'"
"Tu vês uma cara nova chegar,Malcolm Butler de West Alabama, e é como, 'OK, ele fica aqui [só] para o estágio'. Mas, depois, ele continuou a fazer jogadas. Destacou-se imediatamente perante todos."
Já Matt Patricia, coordenador defensivo dos Patriots, considera que nestes três primeiros anos, Malcolm Butler tem tentado "obter uma boa compreensão sobre como a liga é, compreender como se deve preparar e como atacar o plano de jogo todas as semanas. Sem dúvida que ele tem melhorado imenso nesse aspeto."
"Realmente, a nossa concentração está em tentar que ele melhore. Nós queremos ter a certeza que ele está a melhorar em todas as coisas que ele tem [que fazer] dentro do campo, mas também fora do campo – na sala de reuniões, estar atento, tendo a certeza que está a estudar os adversários e a compreender o plano de jogo, compreendendo o plano global – que é algo que eu acho que qualquer jovem jogador, um rookie, um jogador novo no nosso sistema [deve aprender]. Leva sempre um pouco de tempo para assimilar esse ponto de vista holístico."
O progresso registado deve-se principalmente ao fato deMalcolm Butler ser uma pessoa humilde, que trabalha ao máximo e cumpre as instruções dos treinadores.
"Eu penso que em termos gerais o Malcolm [Butler] é muito humilde," considerou Bill Belichick. "Eu penso que essa é uma das coisas que [cativa] os seus companheiros e todas as pessoas à sua volta. Ele está confiante, trabalha arduamente, adora competir, mas ao mesmo tempo, ele é humilde em relação ao seu sucesso e à notoriedade que tem recebido, e não apenas devido a uma jogada, pois estabeleceu-se como um cornerback sólido na NFL. Penso que ele faz um bom trabalho em manter-se humilde e manter, da maneira certa, as coisas em perspetiva."
Este trabalho tem proporcionado uma evolução acentuada, pois o site 'Pro Football Focus' considera que Butler é o quarto melhor* cornerback* na liga.
"Mas eu tenho que continuar a trabalhar, fazendo tudo para ajudar a minha equipa a vencer, e tentar construir meu caminho e continuar a ser um jogador de futebol produtivo", disse Butler.
"Ele é um jogador muito bom. Ele é um bom jogador. Ele mostra-se realmente instintivo e agressivo e confiante. Faz um bom trabalho," concluiu Pete Carroll, treinador de Seattle.