Por norma, é dos jogadores que fala todas, mas mesmo todas as semanas para os jornalistas, normalmente às quartas-feiras. Mas, desde que acabou de cumprir a suspensão imposta pela liga, o quarterback Tom Brady ainda não foi disponibilizado para falar com a imprensa. Por isso, desde segunda-feira, sempre que o balneário abre, todos querem saber como é que está o Tom.
O Treinador Bill Belichick, que tem uma filosofia diametralmente oposta aos interesses dos jornalistas, já que para ele o importante é a equipa e não as individualidades, o regresso de Tom Brady tem que ser cuidadosamente preparado.
Bill Belichick sabe muito bem que a ideia generalizada na imprensa e entre os adeptos é de que com o regresso de Tom Brady ninguém vai parar os Patriots. Para eles, a questão no jogo de domingo não é saber quem ganha, mas sim por quantos pontos ganharão os Patriots. É uma ideia muito perigosa para Belichick.
Na conferência de imprensa de sexta-feira, o tema Tom Brady tornou a ser muito discutido. A primeira questão relacionou-se com o possível impacto anímico que o regresso de Tom Brady terá na equipa.
"Espero que todos os nossos jogadores estejam focados no trabalho que eles têm para fazer e não se preocupem com o que todos os outros estão a fazer," começou por dizer Bill Belichick. "Espero que possamos jogar bem em termos coletivos, [e que] cada um de nós faça o seu trabalho. Acho que vamos deixar que sejam os fãs a ser os fãs. Vamos apenas tentar fazer o nosso trabalho e ver se conseguimos competir."
Bill Belichick deixa avisos
Mais à frente, quando foi sugerido que Tom Brady não iria sentir os efeitos da sua ausência, Bill Belichick deixou vários avisos, pois quis que ficasse bem claro que mesmo um veterano da categoria de Brady precisa de algum período de adaptação e que só se jogando é que se adquire ritmo competitivo.
"Já treino há muito tempo nesta liga," começou por dizer Belichick. "Já vi muitos jogadores por quaisquer motivos – lesões, disputa de contrato, suspensões etc. E eu diria que em termos gerais é difícil para um jogador que não está a jogar football conseguir treinar como se estivesse a jogar fotball. Não me interessa quantas voltas ele dá ao campo, não importa quantas abdominais faz."
Segundo a lógica de Belichick, "se essa fosse a melhor forma de o fazer, não fazer nada durante quatro semanas e ir fazer flexões, então acho que talvez fosse isso que nós faríamos."
"Mas muito sinceramente, não me parece que esse seja o caminho certo a seguir," acrescentou Belichick. "Isto é apenas a minha opinião. Eu penso que nós beneficiamos com as repetições nos treinos. Penso que nós beneficiamos das repetições nos jogos. Não me parece que seja benéfico não fazer isso. Não significa que não possa ser ultrapassado, não significa que não se pode fazer uma boa exibição, significa apenas que se essa fosse a melhor maneira de se preparar para o jogo, então seria isso que nós faríamos. Simplesmente não acredito nisso. Tenho certeza que muita gente discorda de mim, mas esta é apenas a minha opinião."
Em sequência foi-lhe perguntado se essa falta de ritmo e sintonização não poderia ser ultrapassada com um maior volume de trabalho nos treinos realizados imediatamente após o regresso. Para responder, Belichick baseou-se nos seus 42 anos de experiência como treinador.
"É uma ótima pergunta. Quero dizer, essa é a grande questão. O que é que é demais? Como é que se prepara o ritmo de jogo quando não se esteve no ritmo de jogo?," disse Belichick. "E sempre que um jogador lesionado regressa, às vezes, a lesão faz parte de toda essa conversa. Quanto é que ele pode fazer? Poderão ser outras situações. Em que tipo de condição [física] está o jogador em relação ao tempo que ele esteve fora?"
"Na realidade, a minha experiência com todos estes jogadores tem sido que com a passagem do tempo eles começam a jogar melhor," concluiu Belichick. "Talvez o seu primeiro jogo seja o melhor jogo, mas o mais provável é que seja o terceiro, quarto, quinto, sexto jogos que provavelmente serão melhores do que o primeiro. Mas, uma vez mais, isso é apenas baseado na experiência. Não sei o que vai acontecer com um jogador novo que regressa. Temos dois [Brady e Rob Ninkovich]. Não faço a mais pequena ideia. Eu penso que eles se estão a preparar bem, vão competir arduamente, mas uma vez mais se essa fosse a melhor maneira de se preparar, então acho que veríamos mais pessoas a fazer isso. Não me parece que seja o caminho a seguir."
Preocupa-te só em fazer o teu trabalho
Tem sido a mantra dos Patriots desde a chegada de Bill Belichick, a necessidade de cada membro da organização se preocupar apenas em fazer, e bem, o seu trabalho e não olhar para aquilo que os outros estão a fazer. Por isso, quando foi sugerido que o resto da equipa iria trabalhar mais na preparação do jogo de domingo, Belichick tornou a deixar recomendações.
"Não, o que eu penso é que eles precisam de fazer o que eles precisam de fazer," ripostou Belichick. "Acho que vocês não estão a ver a ideia. Não me parece que possamos estar em campo a fazer o trabalho dos outros. Acho que o que precisamos de fazer é fazer o trabalho que todos nós precisamos de fazer. Penso que eu preciso de fazer o meu trabalho, penso que cada jogador precisa de fazer o seu trabalho. Não acho que seja preciso preocupar-nos com o que toda a gente está ou não está a fazer. Acho que isso seria um erro tremendo. Eu nunca poderia treinar uma equipa para fazer isso."
E para encerrar o assunto, Belichick sugeriu que "não é que eu saiba alguma coisa, é apenas a minha abordagem. Penso que se todos nós tentarmos apenas fazer um bom trabalho naquilo que estamos a fazer, estaremos muito melhor do que se todos se preocuparem com o que os outros estão a fazer. Não acredito nisso."
Todos são diferentes
O que ficou bem claro destas declarações de Bill Belichick é que todos os jogadores são diferentes, por isso nunca se sabe ao certo como é que conseguem lidar com períodos de ausência.
O ano passado, por exemplo, Brady esteve pouco participativo nos jogos de preparação, não entrou em campo no último. Mas, nos primeiros quatro jogos da temporada acumulou 1.387 jardas e 11 touchdowns, só que desta feita falhou quatro jogos a valer e não apenas um jogo de preparação.
Como ainda não falou à imprensa, ninguém sabe ao certo como está, quer física, quer psicologicamente.
O que os outros dizem
"Deixem que vos diga isto: eu espero que haja um período de adaptação [para Brady]," disse Hue Jackson, treinador dos Browns. "Não me parece que haja para ele."
"Estamos a falar de Tom Brady, e ele está ansioso para jogar. Ele não gosta de falhar jogos, por isso ele vai regressar e vai jogar tão bem como tem feito." Jackson
"Eu sei que ele tem trabalhado arduamente onde tem estado. Isso não é segredo nenhum para mim, todos os dias são assim para ele", disse Danny Amendola em declarações prestadas aos jornalistas no início da semana. "Tenho a certeza que tudo regressará com naturalidade para ele."
"Ele vai estar determinado. Vamos estar todos preparados, vamos estar todos determinados. Vamos ter muita energia positiva. Estamos entusiasmados por termos tido um bom treino e agora vamos em frente."
"Temos que nos preparar todas as semanas ao máximo, tem sido como qualquer outra semana, exceto que o Tom regressou a quarterback, baby," concluiu Rob Gronkowski.
Em conclusão, o regresso de Tom Brady é uma boa notícia para todos. Mas, o mais importante será o regresso à normalidade.
"Não vou dizer [que tudo] voltou ao normal. Isso só vai acontecer quando não existirem mais perguntas sobre o [Tom] Brady," indicou Devin McCourty. "Eu penso que para nós, é assimilar o plano de jogo, tentar vencer os jogos; É nisso que estamos focados. Mas quando lidamos com os media, eles concentram-se no Tom. Como tal agora vai ser bom deixar isso para trás e regressar aos jogos."
O regresso é já no domingo e caso os Patriots consigam ganhar em Cleveland, Bill Belichick terá a vitória número 250 como treinador principal, total que inclui também os play-offs, a quarta melhor marca da liga.