Contrariamente ao que se previa, a vitória dos Patriots sobre Houston não foi o passeio que se esperava. Bill Belichickfizera a sua parte, pois passara toda a semana a avisar que os Texans eram um adversário muito difícil e que a sua equipa teria de jogar ao seu melhor nível para seguir em frente.
E na realidade, apesar do resultado final, o jogo foi mais complicado que se previa. Dizem os entendidos que no football, como afinal em todos os desportos, uma equipa joga o que a outra deixa, por isso a questão está em saber se os problemas dos Patriots foram provocados mais por erros próprios do que pelo valor do adversário.
No domingo, à hora do almoço, pouco mais de 12 horas depois do apito final do jogo contra Houston, o treinadorBill Belichick, depois de já ter passado algumas horas a estudar o filme do jogo, reuniu-se com a comunicação social em Foxboro precisamente para apresentar a sua análise aos problemas que afetaram a sua equipa.
O primeiro tema foi a lesão de Chris Hogan. Na realidade, depois da saída do veloz wide receiver, o ataque sentiu algumas dificuldades em movimentar a bola. Para se ter uma melhor ideia do que foi a eficácia de Hogan e Julian Edelman, basta dizer que Tom Brady completou os primeiros 11 passes para este duo, totalizando 229 jardas. O primeiro passe falhado para um deles só surgiu aos 6:18 do terceiro período.
Julian Edelman, obviamente, foi o grande destaque do ataque pois teve oito receções, totalizando 137 jardas. Edelman aumentou o seu total nos play-offs para 78 receções, que passa a ser o novo recorde dos Patriots e supera uma marca que pertencia a Wes Welker.
Pouco depois do tal primeiro passe falhado na direção de Edelman, Chris Hogansaiu lesionado e não regressou ao jogo.
Mas, Bill Belichick, conforme é seu timbre, não prestou esclarecimentos.
"Não, não tenho nenhum nenhuma atualização," disse Belichick. "Vamos fazer a atualização na quarta-feira depois do treino. Isso é tudo fogo de vista."
OS PROBLEMAS COM O PASS RUSH
Muitos dos problemas provocados por Houston ficaram a dever-se às excelentes exibições dos pass rushers Jadeveon Clowney e Whitney Mercilus, que criaram grandes dificuldades à linha ofensiva dos Patriots. Embora só tenha permitido dois sacks, não restam dúvidas de que Tom Brady sentiu a pressão e teve a pior percentagem de passes nos 32 jogos dos play-offs em que já participou, apenas 18 de 38, 47%, e ainda duas interceções. O seu passer rating foi de apenas 68,6.
Mas, Bill Belichick não foi apanhado de surpresa pois apontara repetidamente para essa possibilidade durante toda a semana.
"Nós falámos sobre eles durante toda a semana. Eles estão bem treinados. Eles [Houston] têm uma equipa técnica muito boa e um coordenador [defensivo, Romeo Crennel] muito bom, e são dois excelentes jogadores," indicou Bill Belichick. "Todos têm problemas a bloqueá-los. Eles são jogadores muito perturbadores, os dois. São grandes, correm bem, são muito instintivos, são inteligentes a jogar, têm grande equilíbrio. Quero dizer, eles são bons."
Mas, o que mais perturba Bill Belichick são os chamados 'erros mentais', os erros não provocados. O primeiro surgiu aos 7:35 do primeiro período. Na altura os Patriots já estavam a ganhar, 7-0, e a defesa tornara a anular o ataque dos Texans, provocando o que se pensava ser mais um punt. A bola estava na linha de 15 jardas de Houston, pelo que os Patriots iriam ficar em boa posição para tornarem a pontuar. Mas, depois de alguma confusão, um dos juízes atirou o lenço amarelo a assinalar uma falta. Tinha sido Eric Rowe, que se meteu na confusão e foi penalizado com um avanço de 15 jardas para os visitantes. Devido a isso a drive continuou e os Texans acabariam por conseguira um field goal que reduziu para 7-3.
Quando lhe perguntaram se os árbitros haviam tomado a decisão certa, Bill Belichick ripostou: "qual é a decisão certa? De que é que está a falar? Qual é a decisão certa?"
O jornalista esclareceu que Eric Rowe aparentemente estava a tentar separar alguns jogadores e a proteger um colega de equipa.
"Não se pode fazer isso. Não, não se pode fazer isso," respondeu Bill Belichick. "Não se pode puxar os jogadores no monte. Isso não é a coisa certa. O regulamento é bem claro. Não há nenhuma dúvida sobre isso. Não se pode fazer isso."
O jornalista ainda tornou a insistir, sugerindo que Rowe estava apenas a tentar separar jogadores. Bill Belichick ficou algo agitado.
"Não se podem fazer coisas que são definidas pelas regras como sendo ilegais. Não se pode fazer, ponto final. Não há nenhuma coisa certa a fazer. A regra é a regra. Tens que cumprir as regras do jogo. Obviamente, nós temos que fazer um melhor trabalho nos treinos. Nós temos que fazer um melhor trabalho nos treinos sobre todas as regras," acrescentou Belichick. "Não podemos agarrar [os adversários], não podemos cometer faltas pessoais, não podemos fazer coisas que são contra as regras, pois seremos penalizados por isso. Não se trata de fazer a coisa certa. O certo é jogar dentro das regras."
"Como equipa, temos que tomar boas decisões e jogar sem cometer faltas. Esse é o nosso objetivo todas as semanas. O que está certo é jogar dentro das regras, ponto final, preto e branco."
EXCELENTE TRABALHO COLETIVO NO RETORNO DE DION LEWIS
Felizmente para os Patriots, na jogada seguinte, no kickoff, Dion Lewis correu 98 jardas com o retorno, a primeira vez que um jogador dos Patriots conseguiu fazer um touchdown num retorno.
Os bloqueios de Geneo Grissom e James Develin foram essenciais, mas para Bill Belichick o mais impressionante foi a forma como toda a unidade trabalhou para criar os espaços necessários para Dion Lewis conseguir galgar as 98 jardas.
Depois de reconhecer que Geneo Grissom e James Develin fizeram o trabalho inicial, Bill Belichick salientou o que se passou a seguir.
"Um dos grandes bloqueios na jogada foi com o [Brandon] Bolden, penso que com o Brandon King, que criaram um espaço inicial," explicou Belichick. O Nate [Ebner] teve um bloqueio essencial naquela altura e o Shea [McClellin] fez um bom trabalho contra o [Brian] Peters, que é um dos melhores *tacklers *deles…e o Chris Hogan, que obviamente tem muitas responsabilidades no ataque, também estava na unidade. Ele e o [Patrick] Chung fizeram dois grandes bloqueios, na zona posterior, e depois assim que o Dion [Lewis] chegou à linha, conseguiu uma boa mudança de direção e correu mais depressa do que o resto da equipa [adversária]."
Pouco depois regressaram os erros pessoais. Tom Brady teve uma interceção quando o wide receiver Michael Floyd não conseguiu segurar o passe, que sobrou para A. Bouye. Seis jogadas depois, novo field goal de Nick Novak reduziu para 14-6.
No kickoff *seguinte foi a vez de Dion Lewis cometer mais um erro, desta vez um *fumble, que 35 segundos depois resultava no touchdown de C.J. Fiedorowicz. 14-13.
Foram momentos de algum nervosismo. Mas, eventualmente a defesa tomaria conta do recado.
Com o resultado em 24-16, a 7:34 do terceiro período, a intuição de Devin McCourty permitiu-lhe adivinhar onde o quarterback Brock Osweiler iria tentar o passe e antecipou-se a DeAndre Hopkins, uma interceção que tirou algum ímpeto e animação aos visitantes.
"Sim, ele [Devin McCourty] fez uma grande jogada," salientou Bill Belichick. "A antecipação, pois leu o quarterback, a forma como foi para a bola, e a segurou com as mãos no seu ponto mais alto, foi realmente uma jogada muito bem executada pelo Devin.
"Foi uma excelente jogada. Uma jogada importante no jogo, mas foi muito bem executada por parte dele."
No início do quarto período, uma interceção de Logan Ryan acabou com o sonho de Houston, porque levou a bola até à linha de seis jardas de Houston. Duas jogadas depois, Dion Lewis fez história com um touchdown de bola corrida que aumentou a vantagem dos Patriots para 31-16.
Lewis passou a ser o único jogador na história da NFL que, no mesmo jogo, conseguiu touchdowns no jogo corrido, num retorno e ainda numa receção.
"O Logan[Ryan] tem feito um bom trabalho para nós durante toda a temporada. Ele fez um excelente trabalho ontem à noite,' disse Bill Belichick. "Foi uma luta incrível contra o Hopkins [DeAndre] e, no interior, onde o Hopkins aparece frequentemente, embora nem sempre. Mas realmente, o futebol é isso, é continuar a trabalhar arduamente e melhorar. É por isso que reunimos todos os dias. É por isso que treinamos todos os dias. É por isso que treinamos e trabalhamos as coisas que podemos fazer, para tentar melhorar, e cada jogador tem a oportunidade de fazer isso todos os dias, a não ser que esteja lesionado."
A concluir Bill Belichick aproveitou para elogiar Logan Ryan, que realizou neste jogo talvez a melhor exibição desde que chegou aos Patriots.
"Muito disso é um pressentimento e instinto e uma reação rápida, o reconhecimento de todas as coisas que estão a acontecer aqui e ali, e há muitas, e estão a acontecer muito mais rapidamente do que acontecem no perímetro," disse Belichick. "
"O Logan [Ryan] é muito bom nessas coisas, o instinto, o reconhecimento, jogar com o equilíbrio certo, a comunicação e a relação que ele tem com os colegas que estão à sua volta, os defensive ends, os linebackers, os safeties, até mesmo os cornerbacks."
E com esta breve sessão, Bill Belichick encerrou a discussão sobre Houston. Nas sessões de segunda-feira, juntamente com a sua equipa técnica, prestará as primeiras opiniões sobre o jogo de domingo, jogo que constitui a sexta presença consecutiva na final da AFC, algo que nunca ninguém conseguira anteriormente na NFL.