Foi uma postura muito diferente daquela a que os jornalistas locais estão habituados. Normalmente jovial e bem disposto, desta vez foi um Tom Bradymuito sério e de cara fechada que se apresentou a um verdadeiro batalhão de jornalistas para a sua conferência de imprensa de quarta-feira.
As respostas foram curtas. Sempre que tentaram falar a seu respeito, mudou de conversa.
A pergunta que melhor ilustra o seu estado de espírito surgiu já na parte final, quando lhe perguntaram se estava apenas focado em si e na equipa.
"Temos que fazer o nosso melhor jogo do ano," respondeu Brady. "Penso que se resume a isso. Nós temos que fazer tudo o que for necessário para estarmos ao nosso melhor nível durante aquelas três horas no domingo à noite. Eles colocam muita pressão em muitas áreas. É difícil preparar o jogo contra eles. Nós vamos ter que estar à altura das circunstâncias."
É possível que estivesse apenas a seguir o exemplo do treinador Bill Belichick e a tentar passar uma mensagem para os colegas, no balneário. Para muitos críticos este será um jogo extremamente difícil, que obrigará não apenas Tom Brady mas todos os Patriots a estarem ao seu melhor nível, algo que não aconteceu no sábado passado frente aos Texans.
Tom Bradyjá deixara bem claro no sábado à noite que não estava nada satisfeito, nem com a sua exibição, nem com a da maioria dos colegas de equipa.
"Não me sinto nada bem porque nós trabalhámos muito arduamente para jogar muito melhor do que jogámos," tinha dito Tom Brady logo após o final do jogo. "Dou-lhes muito crédito [a Houston], mas nós vamos ter que jogar melhor no ataque. Esperamos ter uma boa semana [de treinos] para tentarmos consertar as coisas que vimos esta noite e depois tentar jogar melhor no próximo fim-de- semana."
NÃO QUIS FALAR SOBRE FEITOS PESSOAIS
E foi com esta atitude que ele se apresentou na quarta-feira aos jornalistas.
Quando lhe perguntaram que significado tinha para ele poder participar na décima primeira final da AFC, um recorde na NFL, Brady limitou-se a dizer: "bem, é um jogo importante, por isso vou tentar jogar ao meu melhor nível."
Um outro jornalista quis saber o que Tom Brady pensava de todas as marcas históricas que ele e a equipa têm vindo a estabelecer e se essa situação, que tem sido muito falada na comunicação social, poderia ser uma distração.´
"Penso que não," respondeu Brady. "Penso que há sempre algo a acontecer. Eu penso que o importante é nós estarmos concentrados no nosso trabalho, que é ir para dentro do campo e jogar bem. O nosso trabalho é aparecer e tentar fazer um grande trabalho quando tivermos a oportunidade, e é assim que tem sido durante todo o ano para nós."
A capa da próximo edição da revista Sports Illustrated vai ter a foto de Tom Brady, num artigo que fala do relacionamento entre Brady e os seus receivers. Esse tema foi o único que quase o fez sorrir.
"Ainda não vi [a revista]. Eu vi a foto, que é muito fixe para quem colecionou todas aquelas capas e as pendurou na parede quando eu era criança," explicou Tom Brady. "Penso que é giro. Os meus receivers, eu não poderia fazer nada sem os colegas com quem tenho jogado."
Ben Roethlisberger vai ser o grande rival no jogo de domingo, mas o *quarterback *dos Steelers é também um grande admirador de Tom Brady. Em Outubro, não jogou contra os Patriots por estar lesionado, mas aproveitou para pedir uma camisola de Tom Brady, que este acabaria por autografar antes de lhe oferecer. A camisola está pendurada no escritório de Roethlisberger.
"O Ben [Roethlisberger] é um jogador incrível, e ele tem sido assim desde 2004, quando chegou à liga," disse Brady. "Sempre adorei a maneira como ele joga, um jogador severo, muito duro. Ele é ótimo para a cidade de Pittsburgh - uma cidade muito dura, persistente. Eu tenho muitos amigos de lá. Ele tem sido um grande jogador. Acho que o respeito é muito mútuo. Para jogar ao seu nível, durante tanto tempo como ele tem feito e com o seu estilo de jogo tem sido notável."
E quando lhe pediram para falar um pouco sobre as mudanças registadas na defesa que vai defrontar no domingo à noite, Brady começou por dizer que "eles [a defesa de Pittsburgh] têm sido dominantes. Uma secundária boa, de confiança. Muito boa contra o jogo corrido. Os linebackers são dos melhores na liga. A frente é grande, muito física, uma equipa mentalmente muito resistente, bem treinada, um grande esquema, pressionam o quarterback. Bem, eles fazem muitas coisas bem feitas."
E pouco mais disse.
Sobre os colegas de equipa, indicou que Dion Lewis "tem feito um excelente trabalho. Obviamente na semana passada completou muitas jogadas importantes para nós. Tem justificado a nossa confiança, é um jogador muito consistente para nós e vamos precisar disso esta semana."
Em relação aChris Hogan, destacou a velocidade do seu receiver, que "tem feito um excelente trabalho para nós…tem sido fenomenal para nós. Fez uma série de jogadas importantes para nós no último jogo e vamos precisar disso esta semana."
No que se refere à defesa dos Patriots, comentou que tem "muitos bons jogadores, muito bem treinados. Jogo contra eles todos os dias nos treinos e é muito competitiva, muito dura, boa contra o jogo corrido, e tem sido muito competitiva contra o passe. É uma defesa muito boa."
Estava-se na ponta final, haviam decorrido cerca de sete minutos, e um dos jornalistas, pouco habituado a esta versão de Tom Brady, até perguntou se ele se sentia bem, pois parecia estar rouco.
"Estou bem," foi a resposta dada por Tom Brady, que logo a seguir abandonou a sala.
ESTÁ TOTALMENTE FOCADO NA PREPARAÇÃO PARA DOMINGO
A conclusão a que todos chegaram, pelo menos aqueles que o conhecem melhor, foi de que Tom Brady está totalmente focado e concentrado no jogo de sábado. E não é para menos porque nos últimos dias alguns dos seus críticos têm sugerido que Tom Brady já não é o mesmo jogador dominante nos play-offs, pois em 32 jogos na fase final tem 30 interceções, incluindo duas frente a Houston.
Num artigo publicado na revista 'Sports Illustrated', Cameron DaSilva sugeriu que neste jogo toda a pressão vai estar sobre os ombros do quarterback dos Patriots porque "Tom Brady não tem jogado bem nos seus últimos dois jogos dos play-offs, registando três touchdowns e 4 interceções. Também completou menos de 50% dos seus passes nas suas duas últimas partidas nos play-offs depois de nunca ter feito isso uma única vez durante a sua carreira na pós-temporada. Isso não indica de maneira nenhuma que Brady não é um bom quarterback, ou que não consegue fazer o trabalho, mas ele precisa de fazer um grande jogo contra o Steelers para os Patriots poderem ganhar.
"O ataque de Pittsburgh é potente e marca pontos aos molhos, assim Brady terá que acompanhar o passo com uma das suas exibições típicas da pós-temporada."
Os fatos revelam que durante a temporada Tom Brady fez 432 passes e só sofreu duas interceções, frente a Houston tentou 38 passes e sofreu as tais duas interceções.
A defesa de Houston pressionou-o imenso, pois conseguiu dois sacks e atingiu Brady oito vezes, algo que a defesa de Pittsburgh não conseguiu fazer a 23 de Outubro, num jogo ganho pelos Patriots, 27-16, e no qual Brady completou 19 de 26 passes, totalizando 222 jardas com dois touchdowns, zero interceções e um passer rating de 124,2.
O que as estatísticas nos mostram é que Tom Brady a jogar em casa tem sido tremendo quando defronta os Steelers: quatro jogos, quatro vitórias, 15 touchdowns, 0 interceções e um quarterback rating de 93,2.
Nos seis últimos jogos contra os Steelers, Tom Brady conseguiu pelo menos dois touchdowns em cada, e não sofreu nenhuma interceção, o melhor registo contra um adversário na história da NFL segundo o site 'The Elias Sports Bureau'.
Em contra partida, Ben Roethlisberger tem apenas três vitórias nos nove jogos disputados contra os Patriots, e só ganhou uma vez em Foxboro, em 2008, no ano em que Tom Brady falhou praticamente toda a temporada por ter rompido o ligamento cruzado no joelho.
DEFESA DOS STEELERS PENSA SABER COMO DERROTAR TOM BRADY
Olhando para tudo isto, a defesa dos Steelers está plenamente convencida de que encontrou o antidoto para anular Tom Brady. É tudo uma questão de colocar o máximo de pressão sobre o quarterback dos Patriots.
"Ao jogar contra um grande quarterback, temos que fazer todos os possíveis para tentar aparecer à frente da cara dele," disse o outside linebacker Bud Dupree.
"Eles fazem muitas coisas boas, esquematicamente, para tentar impedir que ele seja tocado. Temos que ser homens e ganhar nas lutas homem-a-homem".
O free safety Mike Mitchell acrescentou que "Houston fez um trabalho decente a criar pressão pelo centro. Penso que todos sabem qual vai ser o plano [de jogo]. Mas, vai ser muito difícil concretizar esse plano."
Depois de salientar que Tom Brady merece todo o respeito da sua equipa, Mitchell acrescentou que "para nós obviamente [o plano] vai ser tentar minimizar o seu papel na ponta final do jogo, tentando colocar pressão sobre ele, mas vai ser um esforço coletivo de toda a equipa. Vamos precisar que as nossas equipas especiais vençam a batalha da posição no terreno e completem jogadas. Nós vamos precisar que o ataque marque pontos, tenha posse de bola para manter o Tom Brady fora do campo. E depois a nossa defesa vai ter que responder quando for chamada".
É portanto um adversário extremamente confiante, pois conseguiu 30 sacks nos seus últimos nove jogos, que vai estar em Foxboro, plenamente convencido de que encontrou o esquema ideal para irritar e anular Tom Brady. O problema para eles vai ser conseguir transformar as intenções em realidade e quem viu a cara e a postura de Tom Brady na quarta-feira vai ficar plenamente convencido de que não vai ser assim tão fácil para a defesa de Pittsburgh.