As grandes equipas encontram sempre maneira de ganhar jogos nos dias em que não atuam ao seu melhor nível. Reconhecidamente, foi isso que sucedeu no domingo, pois o New England Patriots, especialmente no ataque, esteve muito aquém do habitual, mas a equipa mostrou uma força mental que a ajudou a superar alguns erros próprios, quer a nível de jogadores, quer em termos de planos de jogo. Por isso, no chamado 'momento da verdade', na ponta final da partida, o ataque marchou 83 jardas para conseguir finalmente colocar-se em vantagem no marcador, e logo a seguir a defesa deu um passo em frente e preservou a vitória.
A resistência física/mental e a capacidade de resposta em momentos críticos do jogo são aspetos de extrema importância para Bill Belichick. Foi por isso que expressou o seu contentamento com a exibição de domingo, quando na conferência de imprensa pós-jogo salientou que ficara impressionado com "a forma como a nossa equipa competiu, não começou bem, mas aguentámos, batalhámos até ao fim, e completámos as jogadas de que precisávamos na ponta final."
Tom Brady concordou com o seu treinador.
"Fomos para o campo e lutámos até ao fim," disse Brady. "Certamente não foi a nossa melhor exibição. Falhámos muitas jogadas na parte inicial e depois entrámos numa briga. Estou feliz por termos encontrado maneira para ganhar na ponta final. Ainda não tínhamos tido um jogo assim este ano. Foi uma grande vitória para nós."
A sua experiência indica-lhes que este é o tipo de jogo, com adversidades inesperadas, como foi o caso da lesão de Rob Gronkowski e do falhanço de Stephen Gostkowski, entre outras, que vão encontrar nos play-offs. É preciso estar preparado para isso e não há nada melhor do que um jogo destes para mostrar a Bill Belichick como é que os seus jogadores vão responder, num ambiente hostil, em fases do jogo em que todas as jogadas são importantes e qualquer falhanço pode contribuir de forma importante para uma possível derrota.
Os jogadores, por sua vez, precisam de sentir na pele o que é preciso fazer quando estão encostados à parede, como foi o caso no domingo à noite, e tanto o ataque como a defesa são obrigados a completar todas as jogadas. É que nessa fase do jogo muitas vezes não há margem para erro e é necessário que todos desempenhem adequadamente o seu papel.
"Penso que nos últimos sete minutos do jogo fizemos muitas coisas boas, jogámos o nosso melhor football quando era mais preciso, isso é sempre importante," disse Belichick no domingo à noite.
Por isso, na terça-feira perguntaram-lhe se a experiência ganha no domingo à noite poderá ser valiosa no futuro.
"Quando temos a oportunidade de o fazer, tentamos executar o que temos treinado," explicou Belichick. "Quando vai tornar a acontecer, ou se vai acontecer novamente, não sei, mas quando isso acontecer será importante [a experiência]. Provavelmente não será o mesmo. Quero dizer, de certeza não será a mesma coisa, porque vai ser uma equipa diferente, pode ser uma jogada diferente. Mas, uma vez mais, alguns dos aspetos fundamentais da situação serão relevantes, embora o jogo em si seja diferente."
ALGUMAS DAS JOGADAS QUE O IMPRESSIONARAM
Durante a fase de perguntas e respostas, Bill Belichick falou de algumas das jogadas de maior impacto do jogo contra os Jets.
A primeira envolveu Malcolm Butler, que provocou um fumble numa altura em que os Jets estavam a ganhar por 10-3, e Robby Anderson tinha feito uma receção de 25 jardas que deixaria a bola na linha de meio campo.
"Nós treinamos a criação de turnovers todos os dias," explicou Bill Belichick. "Trabalhamos em tentar retirar a bola aos runners ou aos receivers, e de diferentes ângulos, por isso os jogadores treinam as bases fundamentais. Todas as jogadas são diferentes. Cada situação é diferente; qual a mão com que o corredor segura a bola, onde estamos colocados e assim sucessivamente."
"Foi uma jogada de grande consciência por parte do Malcolm [Butler] por ter conseguido colocar lá a sua mão e literalmente ter socado a bola quando ela estava um pouco fora do corpo do [Robby] Anderson. Foi uma jogada muito instintiva com uma reação muito rápida do Malcolm [Butler] para tirar proveito duma oportunidade."
"Fazes coisas dessas e vai-te sempre custar caro," salientou Todd Bowles, treinador dos Jets. "Sempre que consegues um turnover, é crítico. Eles conseguiram-nos e nós não."
O PASSE DUPLO
Os Patriots estavam a perder por 10-0 e o ataque tinha sido totalmente inoperante, pois não conseguira pontuar nas três primeiras séries. Finalmente na quarta série conseguiu entrar no território dos Jets, quando o coordenador ofensivo Josh McDaniels decidiu introduzir uma jogada que ainda não fora utilizada esta época. Tom Bradyfez um passe lateral para Chris Hogan e este lançou na direcção de Malcolm Mitchell, mas o cornerback dos Jets, que tinha sido ultrapassado em corrida, foi obrigado a fazer falta para impedir a receção. A penalidade resultou num avanço de 31 jardas.
"Nós estamos sempre à procura de jogadas que complementem outras jogadas," explicou Bill Belichick. "Por isso se tu fizeres algo nesta liga, não podes continuar sempre a fazer a mesma coisa. As outras equipas são demasiado boas, e são muito bem treinadas."
Por conseguinte todas as jogadas têm mais do que uma opção.
"Há sempre uma jogada complementar, que ou é uma corrida diferente na mesma formação, ou um passe diferente na mesma formação, ou jogadas que parecem iguais, mas que estão verdadeiramente a tentar atacar partes diferentes da defesa. Acho que é uma parte muito importante do sistema atacante ou do sistema defensivo, ou mesmo das equipas especiais, ter jogadas complementares."
Curiosamente esta jogada surgiu devido à mudança no plano de jogo que foi implementada depois da saída, por lesão, de Rob Gronkowski. A certa altura, os Patriots começaram a colocar um wide receiver junto aos running backs, atrás de Tom Bradye foi nesse esquema que surgiu a jogada em que Chris Hogan lançou o passe para Malcolm Mitchell.
Segundo explicou Josh McDaniels, o coordenador ofensivo dos Patriots, todas as semanas a sua equipa técnica tenta encontrar jogadas que "se encaixem nos nossos jogadores e naquilo que vamos tentar fazer cada semana contra os adversários que vamos defrontar."
A ideia é criar algo que "não seja excessivamente previsível e que faça sentido contra a equipa que vamos defrontar. Tu tens que conseguir prever como é que eles podem reagir a isso e o tipo de defesa que vão colocar em jogo. E depois acreditar que tens coisas suficientes nesse pacote [de jogadas], para que não seja apenas um truque. Não queres fazer algo apenas uma vez e depois pôr de parte. Tu gostarias de poder utilizar mais vezes, especialmente se gastares muito tempo com isso nos treinos."
E Josh McDaniels concluiu explicando que "quando estamos no jogo e de repente vês algo na defesa e dizes 'Okey, agora vamos fazer isto naquela jogada, porque treinámos', segues em frente e tentas a tua sorte. Desde que os nossos jogadores tenham treinado e tenham confiança e saibam o que estão a fazer e consigam fazê-lo a grande velocidade e compreendam os ajustes que podem estar envolvidos, ficamos confiantes em fazer isso no domingo."
O *SACK *DE CHRIS LONG
Foi o lance que confirmou a vitória sobre os Jets.
A menos de dois minutos do fim do jogo, com a turma da casa a tentar chegar ao touchdown que lhe desse a vitória, Chris Long conseguiu impor-se ao tackle esquerdo Ben Ijalana e atingiu o quarterback Ryan Fitzpatrick no momento em que este tentava lançar um passe para Brandon Marshall, que entretanto se desmarcara. A bola caiu no relvado e foi recuperada por Trey Flowers.
"Foi mais uma situação que treinamos todas as semanas e penso que foi um lance típico," explicou Bill Belichick. "É o jogador estar consciente e o discernimento do jogador e a capacidade de criar pressão sobre a bola.
"Quando ele [Fitzpatrick] ia lançar a bola, o Chris [Long] estendeu o seu braço direito e atingiu-o. Foi um bom trajeto, apertado, em direção ao quarterback. Como eu disse, nós estávamos num rush com três homens. Eles fizeram a dobra aos outros dois *rushers *por isso tinham dois no Trey [Flowers] e tinham dois no [Jabaal] Sheard e o Chris conseguiu passar por eles, com uma boa colocação."
Os planos de jogo para domingo, contra os Rams, estão a ser elaborados e, conforme Josh McDaniels mencionou, decerto vão incluir algumas variantes de jogadas que foram utilizadas na semana passada. Mas, vão estar disfarçadas, pois a deceção continua a ser uma das armas dos criativos técnicos dos Patriots.